Na infância, o australiano Ben Fitzpatrick ouvia histórias contadas pelo avô sobre tubarões-baleia, dugongos (primos do peixe-boi) e desovas de corais. Décadas depois, como biólogo marinho, ele se tornou um dos grandes defensores do Golfo de Exmouth e da costa de recifes de Ningaloo, lugares únicos tanto da Austrália quanto do mundo.
Em 2003, Fitzpatrick empreendeu uma campanha pública que foi essencial para salvar a Costa de Ningaloo e a consolidou como um lugar de grande valor globalmente, se tornando Patrimônio Mundial da UNESCO em 2011. Nessa região, no noroeste do país, é onde as baleias-jubarte fêmeas param para alimentar os filhotes durante a longa jornada migratória para a Antártida. A famosa Grande Barreira dos Corais fica do outro lado, no nordeste.
Milhares de pessoas visitam esse ponto extremo australiano para nadar entre os corais e avistar tubarões-baleia, baleias-jubarte, raias mantas, golfinhos, dugongos, tubarões e tartarugas. “Este lugar é realmente incrível – olhando para o mundo como um todo, as baleias-jubarte escolheram este local como berçário. Como não amar?”, afirmou a oceanógrafa Sylvia Earle, quando esteve por lá. Ela fundou, em 2009, o projeto Mission Blue, uma parceria da Iniciativa Perpetual Planet da Rolex, que implementa mudanças por meio de uma rede global Hope Spots – ou lugares de esperança em português. Trata-se de locais especiais que são cientificamente identificados como críticos para a saúde do oceano.
Em 2019, os recifes de Ningaloo e o Golfo de Exmouth, associados a um mangue que, surpreendentemente, sobrevive ao lado de um ambiente terrestre árido, se tornaram um Hope Spot da Mission Blue. Fitzpatrick se tornou oficialmente o Defensor desse Hope Spot.
Por causa desse trabalho, a presença dos grandes mamíferos na região só tem aumentado. As estimativas dos cientistas indicam que, nesses últimos cinco anos, a população visitante de jubartes passou da casa dos 300 para 30 mil. Algo parecido ao que ocorreu, também por causa da maior proteção ambiental, no Brasil, dentro do Parque Marinho de Abrolhos, na Bahia. No caso brasileiro, os grandes mamíferos usam as águas quentes do litoral baiano para procriar e alimentar os filhotes nos primeiros anos de vida. Para as jubartes vindas da Austrália, as águas geladas antárticas, durante o verão no hemisfério sul, servem como um verdadeiro spa de engorda. A parte austral do mundo oferece um banquete de krill (microcrustáceos), todos os anos.
O trabalho atual do biólogo, apoiado pela Mission Blue, é coletar evidências científicas que demonstrem a riqueza da biodiversidade de Exmouth e sua conexão com os recifes de Ningaloo, que ficam logo ao lado. Apesar da sua importância para Ningaloo, Exmouth tem recebido menos atenção e há muito tempo é ameaçado pela industrialização. O objetivo de Fitzpatrick é mostrar como os dois ecossistemas são conectados e complementares, portanto, devem ser protegidos como um só.
“Na maioria das vezes, o golfo é bastante obscuro e inacessível, por isso as pessoas não percebem que abaixo da superfície estão alguns dos ecossistemas marinhos mais incríveis do planeta, que precisam de proteção. O meio ambiente fala por si e tudo que estou fazendo é fornecer uma voz”, afirma Fitzpatrick.
Além das baleias, os habitats diversos do Golfo de Exmouth abrigam ainda uma diversidade de vida marinha. As planícies submersas, as formações de macroalgas e as cadeias de recife de coral são fontes de nutrientes constantes para as espécies de invertebrados e grandes animais, como as de peixes e de mamíferos. Os estudos mostram que mais de 2 mil espécies vivem na região.
Como grande parte da região ainda não foi mapeada e segue desconhecida, Fitzpatrick recentemente sobrevoou o golfo e observou abaixo da superfície da água, para destacar a importância de Exmouth para Ningaloo e para além dela. Com o apoio da Iniciativa Perpetual Planet, da Rolex, o biólogo e sua equipe esperam expandir a área de proteção em torno desse refúgio para a vida marinha.
Fotos: Rolex/Tom Cannon