Pode ser na Amazônia, na Mata Atlântica, nas redes sociais ou nas altas montanhas da Ásia e no mundo subaquático. Toda a exuberância da Terra, para ser defendida, precisa de pessoas engajadas que saibam, exatamente, qual é o papel do ser humano em todo esse processo.
Como disse João Campos-Silva, um dos Laureados Rolex, durante a live “Meio ambiente: engajamento que transforma” (fruto de uma parceria entre Estadão e Rolex e sua iniciativa Perpetual Planet): "Promover a reconexão das pessoas com a natureza é fundamental”.
O cientista, que recebeu o prêmio por causa do seu projeto coletivo sobre a produção de pirarucu no interior da Amazônia, afirma que ajudar a entender, por exemplo, a região da maior floresta tropical do planeta e fazer as perguntas certas é absolutamente fundamental para atingir a transformação socioambiental que se almeja.
“O pirarucu ajuda a gente a entender de fato o que é a Amazônia. É uma região que pode ser associada a um caldeirão de plantas, animais, rios e muita gente. Qualquer solução precisa pensar no bem-estar das pessoas. O pirarucu, nesse caso, é um sopro de esperança. São mais de mil pessoas hoje no rio Juruá envolvidas com o projeto, criado há mais de 20 anos”, contextualiza Campos-Silva.
Assim como as comunidades tradicionais amazônicas estão mais conectadas com a natureza, o mesmo precisa ocorrer nos grandes centros urbanos, segundo Campos-Silva. “Esse é um entendimento basal. Se o planeta está doente – e ele está! –, a sociedade também ficará doente”, afirma o cientista do interior de São Paulo, hoje um amazônida por convicção.
Na mesma linha de raciocínio, o empreendedor social Enzo Celulari, sócio-fundador e CEO do Grupo Dadivar, que conduz projetos de forma que desenvolvimento social, ambiental e econômico andem sempre juntos, aposta na comunicação como um caminho seguro para que as transformações na sociedade possam ocorrer. “Precisamos buscar educar o público que a gente influencia de forma simples. As pequenas práticas, como usar a bicicleta em vez do carro a combustão, são importantes. Faz parte da reeducação que precisamos ter. E, muitas vezes, são os filhos que ensinam os pais”, argumenta Celulari.
Em seu dia a dia, o empreendedor social percebe o engajamento social e ambiental das pessoas crescendo muito. “Os consumidores, por exemplo, também precisam cobrar que as empresas pratiquem causas que transformam. Está ocorrendo uma mudança tanto nas pessoas quanto nas empresas. As novas gerações acabam estimulando isso. Mesmo quem não começou o processo de mudança precisa dar esse passo. O importante é que ele comece a ocorrer”, diz Celulari.
Pela experiência de ter conhecido mais de uma centena de países e de ter escalado o Everest e mergulhado em locais paradisíacos, a médica, exploradora ambiental e fundadora do Instituto Dharma Karina Oliani tem na ponta da língua alguns caminhos que também podem levar à defesa do planeta Terra. “A economia circular é um conceito interessante – onde nada pode ser, em tese, descartado, mas sim reaproveitado. É interessante ver que em países como a Holanda, por exemplo, esse conceito funciona e passou a ser uma realidade”, disse Karina durante a live especial sobre engajamento ambiental.
Isso não significa, como lembra a exploradora, que não exista o outro lado da moeda, evidenciando que muita coisa ainda precisa ser feita. “Mergulhei em lugares incríveis, mas, quando percebi, havia plástico enroscado em mim. No Everest, quando fui descongelar a água para consumir, na minha panelinha, também apareceu um plástico. Ou seja, a poluição já está presente em todos os lugares”, afirma Karina.
Isso só mostra que, em qualquer ecossistema da Terra, a conexão autêntica entre seres humanos e planeta será a chave para um processo profundo de transformação. Há mais de 30 anos trabalhando na Mata Atlântica, a experiência de outro Laureado Rolex, Laury Cullen Jr. (coordenador de Projetos e Pesquisas no Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPE), vem bem a calhar, como também ficou evidente no evento online.
A presença institucional de longo prazo, como ocorre na região da Mata Atlântica, no interior de São Paulo, em que Cullen Jr. trabalha, passou a ser decisiva. “Temos os usineiros, os fazendeiros e os sem terra, que agora são com terra. Essa presença das mesmas pessoas na paisagem, há quase 30 anos, faz uma diferença brutal. São elas que estão fazendo a construção dos caminhos edificantes que temos hoje na região do Pontal [do Paranapanema]. Segundo Cullen Jr., esse processo é real, porque as lideranças locais são gente da terra, que entendem e vivem na terra. “Elas são sabedoras das ferramentas de econegociação. Existe uma quantidade imensa de paixão nas ações que faz brilhar os olhos de todos”, explica o pesquisador.
As visões transversais apresentadas por Campos-Silva, Celulari, Karina e Cullen Jr. durante o evento podem ser resumidas em uma das falas da própria exploradora ambiental. “A natureza é um dos melhores remédios que existem. Esse planeta lindo nos foi emprestado. Somos nós que precisamos nos salvar da nossa ganância. A sustentabilidade tem também um pilar social, econômico e ambiental. É perfeitamente possível fazer com que todos conversem”, assegura Karina.