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Estadão em parceria com Rolex
Navegando pela grande espinha fluvial da África Equipe percorreu a remo 900 quilômetros de águas nunca exploradas cientificamente e que são fundamentais para a fauna, a flora e comunidades do continente
Steve Boyes lidera a Expedição Great Spine of Africa, que tem objetivo de atravessar bacias hidrográfica em toda a África

“Para nós, é uma viagem de descoberta. Tudo é novo.” A definição feita pelo conservacionista sul-africano e explorador da National Geographic, Steve Boyes, é precisa sobre o que representa a primeira das expedições do projeto Great Spine of Africa, que ele lidera e que conta com o apoio da Iniciativa Perpetual Planet da Rolex - um programa que busca manter vivo o legado de Hans Wilsdorf, o próprio fundador da marca, apoiando indivíduos e organizações que lutam pela preservação do planeta. A Rolex vem apoiando expedições para as mais variadas áreas do planeta.

Durante cinco semanas, uma equipe de cientistas e técnicos locais percorreram, com canoas tradicionais da região chamadas de “mekoro”, 900 quilômetros do rio Lungué-Bungo, dentro do território de Angola. Muitas das regiões que foram exploradas nunca haviam sido investigadas a partir do método científico.

O diretor de Pesquisa Rainer von Brandis e o gerente de Pesquisa Götz Neef implantam tecnologias para traçar o perfil do leito do rio e medir seu fluxo

O rio estudado de forma minuciosa por Boyes e seu time é um dos afluentes do Zambeze, que deságua em uma região árida de alta altitude do país. O projeto também vai se debruçar sobre outras nascentes essenciais para a vida no continente africano, como as dos rios Congo, o Níger e o Nilo.

Na primeira foto, a equipe da expedição viaja em um mekoro, um tipo de canoa tradicionalmente usada no no sul da África. Na segunda foto, o ecologista Rob Taylor, prepara uma rede para contar as espécies de peixes que vivem no rio

Rios essenciais para a vida

Aproximadamente 400 milhões de pessoas e dois terços da economia africana dependem dessas nascentes. O Zambeze, por exemplo, é considerado uma das maiores fontes geradoras de vida na região sul da África. Mais de vinte milhões de pessoas e incontáveis espécies de animais e plantas, que não podem ser encontrados em nenhum outro lugar do mundo, dependem das águas do rio, que fluem até países como Angola, Zâmbia, Namíbia, Botsuana, Zimbábue e Moçambique.

Contudo, apesar de toda a sua magnitude, há muito que ainda não se sabe sobre o Zambeze — especialmente sobre a sua trajetória, que possivelmente envolve uma nascente pantanosa para mais tarde se encontrar com as águas salgadas do oceano Índico. É por isso que os cientistas e as comunidades locais estão buscando mais informações sobre o Lungué-Bungo. Segundo Boyes, ele pode ser a nascente de toda a força do Zambeze: “A nascente é a responsável por enviar a maior quantidade de água para um rio, além de ser o local mais distante da foz ou do ponto final do rio.” Na expedição, o intuito foi entender de onde a água vem, o que alimenta o Lungué-Bungo e o Zambeze. A melhor maneira que os pesquisadores encontraram para fazer isso foi descendo o rio desde a nascente, vendo com os próprios olhos.

O gerente de acampamento e capitão de canoa Gobonamang ‘GB’ Kgetho após um longo dia remando no mekoro

Quanto maior for o conhecimento acumulado sobre os ecossistemas que dependem do rio, mais eficientes serão as estratégias para proteger a região e combater as mudanças climáticas. No caso específico da expedição liderada por Boyes, a equipe partiu para a região árida de altas altitudes onde se encontra o local apelidado de “torre de água Okavango-Zambeze”, que já havia sido descoberto durante o Okavango Wilderness Project (NGOWP), uma expedição apoiada pela National Geographic.

Naquela oportunidade, foram definidas as bases para a pesquisa sobre a relevância científica da região, que fica a quase 800 quilômetros de distância dos principais rios que alimenta. Agora, com a equipe coordenada em campo pelo biólogo angolano Kerllen Costa, o conhecimento científico avançou bastante. Pela primeira vez, dados foram obtidos sobre as grandes turfeiras que se espalham pela área. São estruturas vegetais no solo, alimentadas pela água da chuva e que funcionam como esponjas. Mesmo no período de seca, elas são responsáveis por alimentar os rios.

Na primeira foto, vista aérea do pôr do sol sobre o curso do rio Lungwevungu, em Angola. Na segunda foto, Boyes que é líder do Rolex National Geographic Explorers of the Year 2019, da equipe do National Geographic Okavango Wilderness Project e agora líder do projeto Great Spine of Africa

Todo o processo natural registrado em Angola, segundo Boyes, é de fundamental valor em tempos de mudanças climáticas. “É muito importante avaliar as transformações que acontecem ao longo do tempo, definir até onde elas são aceitáveis e esperadas, para então levar esses dados até os órgãos governamentais e demandar novas medidas”, explica o conservacionista. “É um trabalho que as próximas gerações também vão continuar.”

Além da análise das turfeiras, a equipe de campo também analisou a água, e para isso foi necessário medir a estrutura e o fluxo do rio, além de monitorar a qualidade da água ao longo de todos os 900 quilômetros de extensão entre a nascente e o ponto de foz, onde o Lungué-Bungo deságua no território da Zâmbia. Para além da inspeção contínua, também foram realizados monitoramentos detalhados a cada intervalo de 10 quilômetros, com o auxílio de drones para gravar vídeos e fazer fotografias do habitat. A ideia é usar esses registros para criar um banco de dados abrangente sobre a saúde do rio e dos ecossistemas, e realizar novas expedições cinco anos para manter o conjunto de dados sempre atualizado.

Na primeira foto, à medida que o rio Lungwevungu se alarga, a correnteza fica mais fortes e Kerllen Costa tem de encontrar linhas navegáveis para passar com segurança. Na segunda foto, vista aérea do pôr do sol sobre o curso do rio Lungwevungu

Biodiversidade e comunidade

Em certas regiões da África, como no interior de Angola, biodiversidade e comunidades locais são engrenagens do mesmo sistema, explica Costa. “Além de identificar as melhores práticas de proteção dos rios, a expedição também é uma forma de nos ajudar a compreender as comunidades locais, porque se conseguirmos fazer isso, conseguiremos entender melhor a relação que essas pessoas têm com o meio ambiente.” O ponto levantado por Kerllen Costa é particularmente importante, pois permitirá compreender como as pessoas contribuem para seus ecossistemas locais. O legado científico de expedições complicadas do ponto de vista logístico – navegar em um rio com corredeiras e rochas é sempre um exercício de paciência, como as imagens da expedição pelo rio Lungué-Bungo evidenciam – vai ter desdobramentos contínuos e duradouros, segundo Boyes. “Ainda há muito a ser feito nesses rios, sobretudo em termos de pesquisa: é necessário estabelecer linhas de base para que esses locais possam ser devidamente protegidos. As nossas expedições têm como missão empoderar e inspirar outras pessoas a protegerem a vida selvagem por muitas décadas ainda”, comenta Boyes que, por motivos de saúde, ficou dois anos sem poder integrar as equipes das expedições pelas nascentes dos rios africanos. “Estou de volta e não vou parar nunca”, afirma o explorador, sorrindo para a câmera.

Crédito das fotos: © National Geographic/Jennifer Guyton

Confira os vídeos da Expedição:

Expedições The Great Spine of Africa: Rio Lungwevungu – Ep. 1

Expedições The Great Spine of Africa: Rio Lungwevungu – Ep. 2

Expedições The Great Spine of Africa: Rio Lungwevungu – Ep. 3