O sol meio entorpecido pela névoa já subiu no horizonte. Em mais uma manhã exuberante nas Terras Altas de Angola, Steve Boyes e equipe se preparam para encarar o desafio que se desenrola em meio à rica natureza do continente africano. Durante essa expedição, que faz parte do projeto Great Spine of Africa, os exploradores mergulham na densa vegetação e terão de lidar com as corredeiras traiçoeiras do Rio Cassai para entender como preservar o ecossistema.
O Cassai deságua no Rio Congo, que se estende por milhares de quilômetros e é um exemplo da interdependência entre o ser humano e a natureza. As nascentes altas, chamadas de “torres de água naturais”, são fundamentais para garantir que o grandioso rio continue a fluir, alimentando as comunidades e a fauna que dele dependem. Estima-se que quase 75 milhões de pessoas necessitam dele para suprir suas necessidades de alimentos, água e transporte. “A história dos humanos modernos começa na África e vai ser decidida lá. Para isso, precisamos de água”, afirma Boyes, parceiro da Iniciativa Perpetual Planet da Rolex e explorador da National Geographic.
As ameaças como mudanças climáticas e poluição tornam a missão ainda mais urgente. Os cientistas, durante a expedição, seguem os cursos d’água que brotam de áreas remotas, onde as turfeiras armazenam água e carbono. Durante a jornada, o time mapeou, por exemplo, a nascente do Rio Munhango, um pequeno riacho que flui sob as árvores. No relato do grupo, trata-se de um paraíso, onde a mandioca e as flores crescem lado a lado, refletindo a beleza e a fragilidade do ecossistema. As medições científicas revelaram que o Rio Munhango, ao desaguar no Cassai, mais do que dobra o volume de água do rio. Essa descoberta reforça a importância das Terras Altas para o equilíbrio da vida na bacia do Congo.
A travessia das corredeiras apresenta a possibilidade de encontros com hipopótamos e crocodilos. “É como se aventurar rumo ao desconhecido diariamente”, comenta Boyes, ressaltando a falta de documentação detalhada sobre a área estudada. Com cautela, ele prioriza a segurança da equipe enquanto coleta dados essenciais para a conservação. Os esforços são cuidadosos. Desde a observação de pássaros até a análise de amostras de água, cada detalhe é registrado. O uso de tecnologia, como drones, permite identificar espécies desconhecidas e mapear a diversidade biológica da região.
O trabalho de Boyes também inclui a integração com as comunidades locais. Para o pesquisador, a proteção da biodiversidade está ligada à preservação das culturas e dos modos de vida que se conectam aos rios. Ao colaborar com pescadores e caçadores, ele busca criar um movimento em prol da saúde dos ecossistemas.
À medida que essa viagem se aproxima do fim, em uma fronteira onde o Rio Congo encontra a República Democrática do Congo, novos cientistas estão prontos para continuar a missão. Boyes, energizado pela experiência, se prepara para sua próxima jornada. Seu espírito de exploração e seu compromisso com a preservação se manifestam na luta contínua pela conservação dos recursos hídricos africanos. O projeto Great Spine of Africa será composto de mais de 200 expedições no período de oito anos. Cada empreitada é um passo em direção a um futuro sustentável para as águas que nutrem o coração da África.
Fotos: The Wilderness Project/Jesse Manuel