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Estadão em parceria com Rolex
Registros da maior selva aquática do planeta para a posteridade Thomas Peschak tem capturado com suas lentes as fascinantes histórias por trás das descobertas da Expedição Perpetual Planet à Amazônia
O explorador e fotojornalista Thomas Peschak tem acompanhado sete equipes de cientistas e exploradores na Expedição Perpetual Planet à Amazônia

Nas águas escuras do Rio Negro, no coração da Amazônia, Thomas Peschak, fotógrafo, biólogo marinho e explorador da National Geographic, trabalha em silêncio para capturar imagens dos enigmáticos botos-cor-de-rosa. Durante a temporada de cheia, quando a floresta se transforma em um vasto jardim inundado, os golfinhos esperam pelos cardumes que se deslocam em direção aos canais principais do rio. No momento exato em que os botos emergem entre as árvores submersas, Peschak dispara sua câmera, imortalizando a cena. “Trabalhar com especialistas mundiais me permite contar histórias que não seria capaz de contar sozinho”, diz ele.

Peschak tem acompanhado os grupos de exploradores da Expedição Perpetual Planet à Amazônia. O projeto, lançado em 2022 pela Rolex e a National Geographic Society, tem como objetivo compreender e preservar o ciclo hidrológico que sustenta a biodiversidade da Floresta Amazônica, que tem sido frequentemente negligenciado. Sete equipes foram às áreas mais remotas da bacia amazônica, desde os picos gelados dos Andes até a foz do Rio Amazonas, e o fotógrafo tem capturado imagens das descobertas que estão fazendo. Após dois anos de expedição, os resultados científicos estão prestes a surgir. Em paralelo, os registros feitos pelo fotojornalista já têm gerado um impacto importante.

Foi possível registrar os botos que os exploradores Fernando Trujillo e María Jimena Valderrama estão estudando em todo o rio Amazonas e seus afluentes

A bacia, que possui o maior volume de água do planeta, abriga por volta de três milhões de espécies de flora e fauna. Seu ciclo hidrológico afeta não apenas a paisagem ao seu redor, mas também o equilíbrio ambiental global. Para entender melhor toda a complexidade do bioma tropical e suas vulnerabilidades frente às mudanças climáticas, os pesquisadores têm atuado em conjunto com comunidades locais. Enquanto isso, Peschak documenta tudo, revelando ao mundo a importância desses ecossistemas. “Essa selva aquática é do tamanho da Austrália, mas raramente temos a oportunidade de visualizá-la por meio de lentes subaquáticas”, explica ele. “É crucial mostrar o quão incríveis esses ecossistemas são.”

Um mergulho científico nas alturas e nas profundezas da Amazônia

Nos Andes, os pesquisadores Ruthmery Pillco Huarcaya, Baker Perry e Tom Matthews investigaram as principais fontes de água que vertem para toda a Amazônia. Huarcaya liderou o monitoramento da saúde dos ursos-de-óculos e seu papel na preservação das florestas em altas altitudes, sempre cobertas pela névoa das montanhas. Perry e Matthews, por sua vez, escalaram o nevado Ausangate, instalando a estação meteorológica mais alta dos Andes tropicais, a 6.349 metros de altitude. Diante das incertezas climáticas, prever mudanças nesse ecossistema é essencial. Após dias de espera, Peschak capturou uma imagem da montanha revelando-se por trás de densas nuvens, destacando a majestade e a importância da cadeia que atravessa, de sul a norte, boa parte da América do Sul.

À esquerda, ecossistema dos manguezais tem sido mapeado por Angelo Bernardino e Margaret Owuor. À direita, Baker Perry, Tom Matthews e Ruthmery Pillco Huarcaya comemoram com cientistas locais, guias e alpinistas, após instalarem a estação meteorológica na montanha Nevado Ausangate, no Peru

Fernando Trujillo, que foi nomeado Rolex National Geographic Explorer of the Year em 2024, trabalha para proteger os botos-cor-de-rosa, mapeando 1.270 quilômetros do rio em quatro países. Ao lado de María Jimena Valderrama, estimou a presença de 1.366 botos na região, fornecendo dados críticos para a conservação. Seu conhecimento foi fundamental para que Peschak registrasse os golfinhos fluindo pela floresta submersa. “Os botos-cor-de-rosa ‘voam’ pelo dossel como pássaros”, descreve Trujillo.

Na foz do Rio Amazonas, Angelo Bernardino e Margaret Owuor analisaram a importância das florestas de mangue para as comunidades locais. Entre os achados, a primeira floresta de mangue conhecida por crescer em água doce. A massa de água lançada pelo Amazonas no Atlântico chega até o Caribe. O fotógrafo Peschak, encarregado de acompanhar a jornada, registrou a presença de tartarugas-de-quilha recém-nascidas no Caribe, evidenciando o impacto do Amazonas sobre outras áreas do planeta, distantes da floresta tropical. “A maior parte das pessoas acredita que a jornada do Amazonas termina em sua foz”, afirma o fotógrafo. “Mas a influência do rio se expande muito além, moldando ecossistemas ao longo do caminho.”

Fábia Mayara Goulart do Nascimento, Margaret Owuor, Gabriel Soares Santos, Thuareag Monteiro Trindade dos Santos, Leo Modesto e Angelo Bernardino formaram a equipe de pesquisa que investigou os manguezais

Peschak também acompanhou, nas planícies amazônicas, Andressa Scabin e João Campos-Silva, que foi laureado do Prêmio Rolex de Empreendedorismo em 2019. A dupla colabora com comunidades locais ao longo do Rio Juruá para proteger megafaunas ribeirinhas, incluindo o pirarucu, o maior peixe de água doce com escamas do mundo. A equipe foi pioneira no uso de localizadores GPS para monitorar a espécie, contribuindo para um aumento populacional de 130% em dois anos, por meio de acordos pesqueiros inovadores.

Usando a tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging), uma metodologia de detecção por meio da luz, Thiago Silva e Julia Tavares mapearam zonas úmidas sazonalmente inundadas, criando o primeiro modelo 3D desse tipo de pântano no mundo. Com isso, será possível entender como certas espécies arbóreas conseguiram se adaptar às condições de vida hostis.

À esquerda, Andressa Scabin e João Campos-Silva contando golfinhos no rio Juruá. À direita, Lucy Parker, membro da equipe da ferramenta LiDAR (de detecção e alcance de luz), trabalha com o explorador Thiago Silva para criar modelos 3D das florestas inundadas da Amazônia

Em outra frente, Hinsby Cadillo-Quiroz, Jennifer Angel-Amaya e Josh West estudaram lagos artificiais na floresta, identificando um número inesperado de espécies de fauna e flora em áreas anteriormente degradadas. Os resultados do trabalho – e as imagens que os acompanham – darão pistas para se entender como ocorre a revitalização ambiental.

Para Peschak, a fotografia subaquática na Amazônia é um desafio devido às águas turvas e inacessíveis. Ele considera essa narrativa “a mais complexa de sua carreira”. Após dois anos documentando a região, os exploradores estão mais convencidos do que nunca sobre a necessidade de proteger tais sistemas aquáticos vitais. “Precisamos mais do que apenas pesquisadores para cuidar da bacia amazônica”, enfatiza ele. “Precisamos que todos se importem, e isso exige levar o conhecimento científico ao público de forma acessível e envolvente.”

Vista do rio Japurá, as zonas únicas da Amazônia, como esta vista do rio Japurá, não são mapeadas pelos modelos climáticos globais. Eles a representam como uma gigantesca floresta terrestre

Todas as imagens e filmagens são cortesia da National Geographic Society.

Confira o vídeo da expedição:

Expedição Perpetual Planet à Amazônia da Rolex e da National Geographic: Através das Lentes