Debate
Empresários discutem soluções e apontam caminhos para inovação
Lideranças da indústria analisam números, destacam desafios e planejam futuro mais produtivo para o setor
Em uma economia em que bares e restaurantes não são apenas espaços de convívio, mas motores de geração de emprego e riqueza, o lançamento do estudo inédito sobre o setor, elaborado pela FGV em parceria com a Abrasel, trouxe uma oportunidade única de debate. O levantamento foi apresentado durante a conferência Bares e Restaurantes no Brasil, no último dia 2 de dezembro, em São Paulo.
Para líderes de negócios e especialistas, os dados apontam caminhos promissores, mas destacam a urgência de ações coordenadas. Além disso, os números evidenciam que o segmento vive um momento de transição: ou supera as fragilidades apontadas ou corre o risco de estagnar. Para eles, a solução está na formalização, no uso inteligente da tecnologia e em um ambiente regulatório mais favorável.
O retrato do setor: desafios e impacto direto nos negócios
De acordo com as lideranças empresariais ligadas ao segmento de bares e restaurantes, os desafios estruturais apontados no estudo da FGV vão além dos números. A informalidade e os altos custos operacionais geram um círculo vicioso: empresas informais têm menos acesso a crédito, pagam mais caro para operar e enfrentam dificuldades para crescer.
Isaac Sidney, presidente da Febraban, aponta que essa informalidade cria uma lacuna entre as possibilidades de financiamento e as necessidades desse segmento. “Sem informações claras e garantias, o custo do crédito para micro e pequenas empresas é muito alto. O setor bancário quer ser um aliado, mas precisamos de avanços na formalização para construir relações mais transparentes”, afirma.
Para Pedro Silveira, presidente do Grupo Alife Nino, os custos tributários são outra barreira importante. “Gastamos muito tempo e recursos para atender às obrigações fiscais. Isso tira o foco do que realmente importa: inovar e melhorar a experiência do cliente. Simplificar e reduzir impostos é fundamental para liberar o potencial do setor”, defende.
Inovação como motor de crescimento
A tecnologia surge como um dos pilares para resolver problemas estruturais e impulsionar a produtividade. Felipe Hagen Crull, diretor de Relações Institucionais do iFood, aponta que a digitalização transforma a maneira como os bares e restaurantes operam. “O iFood tem investido em ferramentas como o iFood Pago, que oferece crédito personalizado com base no histórico de vendas. Isso é crucial para pequenos empreendedores que precisam de flexibilidade financeira para expandir ou se reestruturar”, explica.
Já João Rua, vice-presidente de Vendas da Ambev, complementa, destacando a aplicação de inteligência artificial na gestão de estoques. “Com o aplicativo Bees, conseguimos ajudar nossos parceiros a comprarem exatamente o que precisam. Isso reduz desperdícios e melhora a rentabilidade, o que é fundamental em um setor com margens tão apertadas”, afirma. Ele ainda ressalta que avanços como esse também contribuem para criar um mercado mais competitivo.
O setor bancário quer ser um aliado, mas precisamos de avanços na formalização para construir relações mais transparentes
_ Isaac Sidney, presidente da Febraban
Simplificar e reduzir impostos é fundamental para liberar o potencial
do setor
_ Pedro Silveira, presidente do Grupo Alife Nino
Com margens [de lucro] reduzidas, cada detalhe faz a diferença
_ Antônio Sobrinho, diretor nacional de Food da JBS
Valorização da experiência do consumidor
Para Paula Lindenberg, presidente da Diageo, não é apenas a produtividade interna que importa. A experiência oferecida ao consumidor é um diferencial competitivo que pode transformar o faturamento. “Os consumidores estão buscando experiências mais sofisticadas e personalizadas. Estabelecimentos que investem em coquetelaria, por exemplo, conseguem não apenas atrair novos clientes, mas também aumentar o ticket médio”, diz.
Daniel Kastrup, diretor sênior de Varejo da Coca-Cola, reforça que marcas bem conectadas às expectativas dos clientes geram resultados melhores. “O consumidor quer algo além do produto. Quer experiências que marquem, que criem memórias. Por isso, investir em parcerias que unam bebidas de qualidade e boa gastronomia é uma estratégia vencedora”, afirma.
Para além disso, Paula também destaca que o crescimento do segmento premium é uma tendência global. “As marcas que oferecem produtos de maior valor agregado crescem três vezes mais que as de mercado massivo. Esse dado mostra que o cliente valoriza qualidade, o que representa uma oportunidade para o setor investir em diferenciação”, aponta.
Eficiência operacional e sustentabilidade
No contexto operacional, Antônio Sobrinho, diretor nacional de Food da JBS, destaca que a eficiência é um dos maiores desafios para os restaurantes brasileiros. “Com margens reduzidas, cada detalhe faz a diferença. Estamos investindo em produtos pré-cozidos que não só reduzem o tempo de preparo, mas também garantem padronização e redução de custos”, explica. Segundo ele, o foco em soluções sustentáveis também é um diferencial que está ganhando espaço.
Para o vice-presidente de Vendas da Ambev, a inovação em soluções digitais também contribui para enfrentar gargalos operacionais e melhorar a experiência do cliente. “Além de ajudar na gestão de estoques, o uso de dados pode oferecer insights sobre o comportamento do consumidor, permitindo aos bares e restaurantes ajustar sua oferta em tempo real e aumentar a eficiência”, afirma.
Os consumidores estão buscando experiências mais sofisticadas e personalizadas
_ Paula Lindenberg, presidente da Diageo
Com o aplicativo Bees, conseguimos ajudar nossos parceiros a comprarem exatamente o que precisam. Isso reduz desperdícios e melhora a rentabilidade
_ João Rua, vice-presidente de Vendas da Ambev
O fator humano
Um ponto destacado no estudo é a baixa qualificação de grande parte dos trabalhadores do setor, algo que impacta diretamente na produtividade e na retenção de talentos. Para Paula Lindenberg, a capacitação precisa ser uma prioridade estratégica. “Na Diageo, desenvolvemos programas como o Learning for Life, que não só capacitam profissionais para o mercado, mas também ajudam a elevar o padrão do setor como um todo. Isso reflete diretamente na qualidade do atendimento e na experiência final do consumidor”, argumenta.
Otimismo com o futuro
Apesar dos desafios, os empresários estão otimistas com o futuro. Para eles, as soluções apontadas pelo plano da Abrasel e os avanços tecnológicos podem transformar o setor. O diretor sênior de Varejo da Coca-Cola destaca a importância da colaboração entre empresas e indústria. “A integração de esforços para criar soluções que atendam desde pequenos bares até grandes redes é o caminho para transformar nosso mercado”, defende Kastrup.
Já o vice-presidente de Vendas da Ambev acredita que a implementação de políticas públicas também será decisiva. “Medidas como a desoneração da folha de pagamento não apenas estimularão a formalização, mas também permitirão aos estabelecimentos investir mais em inovação”, pontua.
Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, o momento exige uma combinação de esforços entre empresas, governo e entidades do setor. “Unir forças é essencial para construir um Brasil mais simples para empreender e melhor para viver. Precisamos transformar os desafios apresentados em oportunidades para avançar”, afirma.
Por fim, Solmucci destaca que o estudo e o plano são apenas o início de uma jornada para transformar o setor em uma potência ainda maior. “Esse é um dos segmentos mais resilientes e diversificados do País. Estamos apenas começando a explorar seu verdadeiro potencial”, finaliza.
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