Entrevista com Paulo Solmucci Junior
“Queremos construir o futuro com
protagonismo e união”
Presidente da Abrasel detalha os impactos da pandemia, a relevância econômica de bares e restaurantes e os próximos passos do setor
Os bares e restaurantes desempenham um papel essencial na economia brasileira, conectando cadeias produtivas, gerando milhões de empregos e refletindo a identidade cultural do País. Apesar disso, o setor enfrenta desafios, agravados pela pandemia de covid-19, que expôs fragilidades estruturais e deixou muitas empresas com dívidas. Em entrevista ao Estadão Blue Studio, Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, explica em detalhes como o Plano Nacional de Restauração pretende enfrentar essas dificuldades, promover o fortalecimento das empresas e engajar governos, sociedade e investidores.
Por que a Abrasel considerou essencial encomendar um estudo tão detalhado à Fundação Getulio Vargas (FGV)? Como vocês esperam que esses dados transformem a percepção do setor e influenciem as políticas públicas?
O setor de bares e restaurantes é essencial para a economia brasileira, mas, até pouco tempo atrás, não tínhamos um levantamento que traduzisse sua dimensão e importância. Nossa atividade gera empregos em massa, é um elo entre diferentes cadeias produtivas e reflete a identidade cultural do País por meio da gastronomia. Contudo, enfrentamos desafios históricos.
O estudo foi concebido para oferecer um ponto de partida sólido. Como podemos propor políticas públicas ou estruturar um plano de desenvolvimento sem dados concretos? Além disso, ele busca sensibilizar a sociedade e o governo sobre a relevância do setor, empoderando lideranças para construir soluções práticas. É o primeiro passo de um movimento para resgatar e fortalecer esse pilar econômico e social.
Com tantas empresas endividadas e dificuldades de gerar lucro, quais iniciativas do plano têm o maior potencial para ajudar o setor a equilibrar suas contas e retomar o crescimento?
Para que as empresas consigam quitar dívidas, é fundamental melhorar a produtividade. O plano propõe três frentes principais: políticas públicas, linhas de crédito com garantias adequadas e sinergia com grandes empresas e agências de fomento. A ideia é coordenar esforços para criar um ambiente mais favorável, que inclua a criação de fundos estaduais e federais para financiamento e programas de renegociação tributária.
Além disso, estamos lançando uma grande plataforma de produtividade, que conectará empreendedores a soluções tecnológicas e programas de qualificação. Esse movimento tem o objetivo de aumentar a eficiência “da porta para dentro”, enquanto articulamos parcerias e incentivos no ambiente externo.
Acredito que podemos transformar o setor em um exemplo de resiliência e inovação para toda a economia brasileira.
Paulo Solmucci Júnior, presidente da Abrasel
A pesquisa revela que cada gasto de R$ 1 mil no setor gera R$ 3.650 na economia e que cada emprego direto cria outros 2,25 postos indiretos. Como a Abrasel pretende usar esses números para engajar tanto o Poder Público quanto investidores privados?
Acreditamos que a visibilidade do setor é essencial. Esses números ilustram a profundidade do impacto social e econômico que representamos. Queremos sensibilizar a sociedade para que ela reconheça a importância do setor e pressione o governo a priorizá-lo. Quando o cidadão entende nossa relevância, as autoridades encontram mais facilidade em implementar políticas específicas.
O plano é amplo e pensado em nível nacional, mas o Brasil é um país de grandes contrastes. Como a Abrasel está trabalhando para adaptar essas iniciativas para cada realidade local?
Estamos desdobrando o plano em cada Estado, ajustando as iniciativas às realidades regionais. Por exemplo, vamos identificar o que governos estaduais e municipais podem fazer para complementar as ações federais e explorar sinergias com empresas locais. Nosso objetivo é criar um movimento coordenado, em que cada Estado contribua com soluções específicas, mas dentro do guarda-chuva do plano nacional.
A inclusão das favelas foi destacada como prioridade no plano. Quais ações concretas estão em andamento e como vocês avaliam o impacto que isso pode ter tanto para os negócios locais quanto para o setor como um todo?
Hoje, 15% dos negócios nas favelas estão ligados ao setor de alimentação, e grande parte da nossa mão de obra mora nessas comunidades. A Abrasel já atua em seis favelas, promovendo governança e associativismo, e planejamos expandir para 12 nos próximos meses. Queremos levar conhecimento, ferramentas e parcerias para apoiar empreendedores locais, conectando-os ao mercado e fortalecendo seus negócios.
Como enxerga o setor nos próximos 5 a 10 anos? O que será necessário para que ele continue crescendo de forma sustentável?
Estou otimista. O setor está se modernizando rapidamente, com tecnologias como inteligência artificial e plataformas integradas que tornam os negócios mais eficientes. Abrimos caminho para nos apropriarmos do nosso destino, assumindo o protagonismo dessa construção de forma madura e articulada com a sociedade. O desafio agora é levar essas ferramentas para todos os empreendedores, especialmente os pequenos. Com o plano e o engajamento de todos os atores, acredito que podemos transformar o setor em um exemplo de resiliência e inovação para toda a economia brasileira.
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