Distribuição de carga nas cidades vive dilema de ser a solução e, ao mesmo tempo, contribuir com o problema

O incontestável aumento populacional e, com ele a urbanização, os congestionamentos e a escassez da infraestrutura para pontos de ponto de carga e descarga colocam para o gestor logístico desafios diários para conduzir o negócio de entregas.

Soma-se ao cenário ainda a explosão verificada do e-commerce. De acordo com levantamento mais recente realizado pela Ebit/Nielsen, empresa de certificação de lojas online, o comércio eletrônico registrou crescimento de 12% no primeiro semestre de 2019 ante o mesmo período de 2018, o que representou faturamento de R$ de 26,4 bilhões.

No estudo, aumento de consumidores também foi anotado, 7% a mais na mesma base de comparação entre semestres, para 29,7 milhões de compradores. Do total, 5,3 milhões ou 18% do universo pesquisado, diz respeito a pessoas que compraram pela primeira vez.

Não há dúvida de que a expansão do comércio eletrônico trouxe oportunidades de negócio, mas também um complexo sistema que cresce com encomendas menores, personalizadas, mais frequentes e com prazos de entregas reduzidos. Alia-se ao fato as legislações que restringem a circulação de caminhões por vias ou por horários.

“Transportadores, gestores públicos e empresários lidam com variados graus de dificuldade para melhorar o transporte de cargas em centros urbanos. É preciso compatibilizar as demandas do comércio e do setor de serviços com a variedade e o volume crescente de consumo da população e, ainda, com a necessidade de melhorar a qualidade de vida nas cidades, reduzindo os congestionamentos e a poluição ambiental”, observou Clésio Andrade, então presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), no estudo “Logística Urbana – Restrições a Caminhões”, apresentado em abril do ano passado.

Da necessidade surgiram soluções

Proibir caminhões, no entanto, cria outro problema, como o maior de número de veículos menores nas ruas que precisam cumprir suas jornadas de entrega e consequente aumento do tráfego e dos congestionamentos.

As fabricantes de veículos fazem sua parte com produtos e tecnologias capazes de atenuar o conflito e ainda preservar rentabilidade ao transportador, independentemente de seu tamanho.

Com as restrições surgiram novas medidas para caminhões, menores de para-choque a para-choque sem penalizar a capacidade de carga, afinal, levar mais por viagem entra na conta de uma logística mais eficiente. Depois, desenvolvimentos que tornam a tarefa de distribuição urbana mais confortável também contribuem com a produtividade.

Casos de caminhões pensados para proporcionar dirigibilidade de automóvel, com câmbio automatizado, suspensão independente na dianteira, alguns com rodado simples traseiro e amplo espaço interno.

“Escutar o cliente é fundamental, ainda mais em um momento de transformação no qual o setor de transporte está passando”, avalia Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-venda da Volkswagen Caminhões e Ônibus. “Hoje, o objetivo não é somente produzir caminhão, mas tornar o caminhão um bem produtivo, melhorando cada vez a lucratividade do transportador.”

O atual ambiente também torna imperativo o uso da tecnologia, em especial da conectividade para controle não só do veículo, mas das mercadorias. A oferta é diversa, seja das próprias montadoras, ou de empresas especializadas em sistemas de gestão. A telemetria permite ao gestor acompanhar pela tela do computador ou do celular parâmetros de funcionamento do caminhão, rotas, localização da carga, tempo de entrega, dentre variadas outras funções que podem ser aplicadas conforme necessidade da operação.

Em tempos de prazos curtos, congestionamentos e promessas de elevada satisfação do cliente desafiam diariamente o transportador, que precisam ser eficientes em ambiente pouco amigável para fluidez de mercadorias. Mas como resumiu Vivianne Vilella, diretora executiva do projeto E-commerce Brasil durante apresentação na arena New Mobility na Fenatran 2019, “se lembramos que o fim do dia tudo se resume pessoas, fica mais fácil pensarmos nos processos e nas tecnologias que precisamos embarcar para ter uma logística melhor”.