Com pouco mais de 20 anos, ainda uma estudante de pós-graduação, a ornitóloga suíça Anita Studer viajou para o Brasil em 1980 para pesquisar o canto de alguns pássaros na região da Serra da Canastra, em Minas Gerais. A missão científica estava atrelada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nem passava pela cabeça da cientista europeia que o Brasil viraria uma segunda casa.
Da Serra da Canastra, o grupo seguiu rumo ao norte e chegou à região de Pedra Talhada, na divisa dos estados de Alagoas e Pernambuco. O local é habitat de um pássaro conhecido como Anumará pela população local e nem tudo corria bem. A destruição ambiental da região – principalmente por causa da derrubada das matas para a extração de madeira e para o aumento da pecuária e agricultura – ameaçava tanto a floresta quanto o pequeno pássaro que Anita queria estudar. Um sobrevoo, na época, despertou a vontade da pesquisadora de preservar a mata atlântica que havia nos arredores da cidade de Quebrangulo para, assim, salvar também os pássaros. A missão, entretanto, seria repleta de obstáculos. O primeiro passo foi tentar cativar a população local e os governantes a respeito da importância de manter a floresta em pé. Felizmente, Anita e a equipe, que passou a trabalhar em uma ONG criada por ela, começaram a obter bons resultados diante do trabalho de formiguinha que estavam fazendo.
Analisando em retrospectiva, o saldo hoje é bastante positivo na avaliação de Anita, que continua se dividindo entre a Suíça e o Brasil. No processo de regularização da Reserva Biológica de Pedra Talhada (agora uma unidade federal de conservação mantida pelo governo), a batalha nos bastidores do poder em Brasília foi grande, entre os anos 1980 e 1990. A ONG suíça, inclusive, apoiou financeiramente algumas famílias que ocupavam a área que seria preservada. Todo o trabalho realizado no interior do Nordeste brasileiro chamou a atenção internacional e não se limitou à preservação ambiental. Transformações sociais também ocorreram na região e, hoje, o projeto é uma referência e orgulho da comunidade.
Quando tudo começou, em 1980, a estimativa é que havia 300 pássaros na região. Hoje, depois de todo o replantio florestal feito com ajuda dos moradores, a população está na casa dos 3 mil. Um estudo recente de 800 páginas da Universidade de Genebra documenta a rica diversidade botânica e biológica da floresta – de rãs a cogumelos. O funcionamento da floresta está pleno. As árvores retêm água e libertam-na no solo, alimentando 169 nascentes na floresta.
Entre os recursos internacionais obtidos por Anita no início da transformação de Pedra Talhada, consta o Prêmio Rolex de Empreendedorismo de 1990.
O cuidado com a floresta – na região também existem áreas cobertas pela Caatinga, outro importante bioma brasileiro – continua pulsante. “Nosso primeiro viveiro de árvores foi inaugurado em 1990 e, desde então, muitos outros foram criados diretamente por nós ou por nossos parceiros brasileiros”, diz Anita Studer. As comunidades de todo o país frequentemente recorrem ao know-how da associação.
Graças ao generoso apoio que ela também recebeu da Suíça e da França, a ecologista pôde criar uma variedade de programas por meio da associação Nordesta Reforestation & Education, que fundou em Genebra, em 1985. Esses programas englobam atividades destinadas a proteger o meio ambiente e a melhorar a vida dos moradores por meio de ações como o reflorestamento, a educação ambiental, a apicultura, os sistemas agroflorestais, a publicação de histórias em quadrinhos para ensinar as crianças sobre a natureza e a construção de escolas e estúdios. Anita, sem hesitação, afirma que realizou um sonho. “Plantamos oito milhões de árvores no Brasil”, afirma ela. Mas acrescenta: “Eu não sabia que levaria metade da minha vida para salvar esta floresta.”