Pontal do Paranapanema
Nos anos 1990, as imagens de satélite do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado de São Paulo, revelavam uma triste realidade. Como a agricultura havia se espalhado por quase toda a região, as diminutas manchas de Mata Atlântica que restaram seriam totalmente insuficientes para que a biodiversidade e os serviços ambientais da floresta sobrevivessem. A destruição ambiental, como várias pesquisas já ratificaram, impacta a disponibilidade hídrica para o próprio cultivo dos alimentos.
Ao perceber o futuro sombrio do Pontal, o engenheiro florestal Laury Cullen começou a montar as peças do que viria a ser o que ele chama de Mapa dos Sonhos. A primeira questão era fazer com que as manchas de área florestada pudessem se conectar, para que a fauna da região tivesse um habitat minimamente aceitável. O outro obstáculo seria engajar a população local. Desde aquela época, o extremo oeste paulista recebe milhares de famílias de sem-terra em assentamentos rurais.
Desde então, são 25 anos de trabalho na região. A Mata Atlântica – o bioma mais destruído do Brasil desde a colonização – começou a redobrar o seu fôlego. O que significa que animais de topo de cadeia, como a onça-pintada, são agora vistos pela região.
Os desafios socioambientais também passaram a ser superados. Por trabalhar na agricultura, mas também colaborar com a preservação da floresta, atuando em viveiros, por exemplo, a população local aumentou a renda mensal. Seja em São Paulo, nos Estados do Cerrado ou da Amazônia brasileira, este é o segredo de qualquer programa ou política pública que queira imprimir os conceitos do desenvolvimento socioambiental. A partir do momento em que as comunidades locais visualizam que a geração de renda resultante de atividades que mantêm a floresta em pé é mais duradoura do que aquela associada ao desmatamento, cria-se uma cultura a favor da preservação.
Em 2004, o idealizador do Mapa dos Sonhos recebeu o Prêmio Rolex de Empreendedorismo, o que permitiu à ideia deslanchar. Os resultados, ao longo de quase duas décadas, são positivos. Os sem-terra locais passaram a se envolver no trabalho de reflorestamento. Os primeiros 12 viveiros de espécies nativas da Mata Atlântica, feitos de forma comunitária, foram montados e, atualmente, produzem as mudas de mais de 100 tipos de espécies de árvores endêmicas. Vários desses berçários vegetais são administrados por mulheres. Para aliviar a pressão sobre a terra, o programa também busca maneiras inovadoras de aumentar a renda dos agricultores para que eles não sejam mais forçados a desmatar.
Segundo Cullen, sem o comprometimento da população local, o Mapa dos Sonhos não existiria.
O brilho dos olhos está presente na paisagem. Os dados do programa mostram a restauração de 2.000 hectares de floresta e o plantio de 4 milhões de árvores, além da geração de R$ 10 milhões para a economia local. Em contraste com outras regiões, onde o desmatamento persiste, a expansão da renovação florestal também está ajudando a combater as mudanças climáticas, armazenando 800 mil toneladas de carbono todos os anos.