sob o gelo Cientista britânica prepara expedição para cavernas isoladas do Ártico
Existem segredos climáticos muito bem guardados nas cavernas do mundo. No Ártico, então, uma das regiões mais rapidamente afetadas pelas mudanças climáticas globais, desvendar o que os chamados espeleotemas guardam tem uma importância ainda maior. A análise dessas estruturas (formadas por depósitos de calcita no interior das cavernas) tem uma importância crucial para o entendimento do passado climático do planeta. Enquanto as marcas do clima no gelo do Ártico, hoje, permitem uma leitura do passado de no máximo 128 mil anos, amostras das cavernas da região, segundo estimativas científicas, vão permitir uma leitura pretérita de 500 mil anos ou até mais.
A questão é que partir da teoria para a prática, no caso das cavernas remotas de um local específico e isolado da Groenlândia, requer muito planejamento. Mas Moseley, que já liderou três expedições para a região nos últimos anos, tem um plano ainda mais ousado que, se tudo der certo, entrará em ação em 2023. A pesquisadora, uma das laureadas dos Prêmios Rolex de Empreendedorismo em 2021, agora tem recursos para desvendar o interior de algumas cavernas do Ártico que nunca foram estudadas antes.
A expedição à península Wulff Land, de acordo com a cientista, vai ajudar a entender como o clima do Ártico já foi surpreendentemente quente e úmido no passado - além de mostrar as várias idas e vindas das temperaturas ao longo da história da Terra, em pelo menos meio milhão de anos. Por meio de metodologias sofisticadas, a concentração de oxigênio e carbono dos espeleotemas é uma das peças-chave que permite aos pesquisadores inferir sobre o clima do passado.
A expedição, tudo indica, testará os limites da resistência humana. Gina e sua equipe de seis pessoas – alguns são grandes experts em logística – vão encarar uma longa e árdua trilha a pé sobre o gélido terreno rochoso da região, carregando todos os seus suprimentos, depois do transporte aéreo. Em seguida, o grupo escalará um penhasco altíssimo e descerá de rapel em cada caverna para coletar amostras.
Além de olhar para o passado, os dados da expedição também são importantes para se discutir o presente e o futuro climático do planeta.
A Groenlândia influencia de forma implacável o destino da humanidade. O gelo da região está derretendo em velocidade recorde. Em 2019, o derretimento adicionou 12 bilhões de toneladas de água aos oceanos em um único dia. Esse fenômeno tem elevado o nível do mar em mais de um milímetro por mês. A terra congelada também influencia os padrões de precipitação, formação de gelo, correntes oceânicas e sistemas climáticos que afetam regiões densamente povoadas em todo o mundo.
O link feito entre o passado e o futuro por meio das cavernas, um pequeno pedaço do grande quebra-cabeça climático planetário, vai mostrar o que a humanidade pode esperar em relação às mudanças climáticas tanto no Ártico quanto em outras partes do globo. E, pelo que a ciência já sabe até agora, as informações que vão surgir serão decisivas para ajudar a humanidade.
"O Ártico está aquecendo duas vezes mais do que a média global, e essas mudanças afetam pessoas e ambientes ao redor do mundo. Nós esperamos aprender mais sobre como o clima e o ambiente no norte da Groenlândia responde ao aquecimento das temperaturas globais. A partir disso, teremos informações sobre o que esperar do futuro", explica Gina, que não se considera uma heroína.
"Prefiro pensar que todas as pessoas neste planeta devem cuidar dele. Todos devemos agir como guardiões, zeladores, embaixadores quando se trata de cuidar de nossa casa compartilhada" - Gina Moseley