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Estadão em parceria com Rolex
Luiz Rocha Um astronauta do oceano profundo Um dos poucos mergulhadores de grandes profundidades no mundo, o brasileiro Luiz Rocha transforma conhecimento em proteção ambiental
Foto: ©Tane Sinclair-Taylor

A mais de 100 metros de profundidade, a adrenalina inicial do mergulho está sempre presente, principalmente nos primeiros cinco minutos de cada descida ao fundo do mar. O biólogo brasileiro Luiz Rocha, depois de muito tempo sem viajar por causa da pandemia, está sob as águas profundas das Maldivas, no ainda quase desconhecido oceano Índico. A câmera do mergulhador dispara e capta a imagem de uma nova espécie de peixe. Dez segundos depois, ao se virar, outro click, mas este não é nada inspirador. Restos de lixo humano estão enrolados no coral que a equipe de Rocha está analisando.

São imagens representativas do atual momento ambiental do planeta, segundo o cientista brasileiro. “Os corais, inclusive os profundos, estão dando o aviso de como o planeta está desbalanceado”, afirma Luiz Rocha, que hoje vive na Califórnia.

Foto: ©Justin Grubb

A relação do mergulhador com o mar vem desde os tempos da infância. Após nascer em João Pessoa, de frente para o mar no Nordeste do Brasil, ele se mudou para São Paulo com a família aos 7 anos de idade. A volta para casa na hora do almoço, depois do colégio, envolvia um périplo de horas pelas lojas de peixes do bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. “Um professor meu, na época, do terceiro ou quarto ano, me falou que eu deveria ser biólogo. E foi isso que ocorreu”, relembra Rocha.

No fundo do mar – e é fundo mesmo – o cientista é um dos poucos mergulhadores do mundo que se arrisca a profundidades maiores do que os 100 metros. É interessante ressaltar que os mergulhos não são feitos com auxílios de robôs ou pequenos submarinos. Rocha usa apenas um equipamento especial para respirar. Além de uma lanterna, porque a luz, em muitos lugares, quando chega, não é suficiente para ajudar a acuidade visual dos estudiosos dos fundos dos mares.

“Depois dos primeiros cinco minutos, a adrenalina da coleta baixa um pouco, e a gente consegue começar a olhar para o ambiente ao redor. Me sinto mesmo como um astronauta” - Luiz Rocha
Foto: ©Tane Sinclair-Taylor

Como o foco do estudo são os peixes – e ele encontra várias espécies novas quando faz as expedições, ainda mais por visitar áreas pouco exploradas –, não existe outra forma de fazer a pesquisa a não ser nadando. Outros grupos de pesquisa que estudam animais mais estáticos, como esponjas ou corais, podem fazer a coleta a partir da superfície, com a utilização de robôs.

A expedição, explica o pesquisador, ocorre graças aos Prêmios Rolex de Empreendedorismo que ele recebeu em 2021. “Essas ações exploratórias não costumam ser financiadas pelas agências científicas tradicionais, até pelo risco. Por isso, a premiação acabou sendo essencial para o trabalho.” No plano de voo, estão previstas mais duas ou até três viagens novamente para o Índico.

O foco da equipe com esses trabalhos, além da parte científica, é também bradar aos quatro cantos do mundo pela importância da proteção ambiental ao planeta Terra. “Não adianta apenas descobrir novas espécies de peixe, como a gente faz, e deixar tudo trancado nas revistas científicas. Precisamos cada vez mais falar de meio ambiente, de ciência, e mostrar que precisamos de mais e mais atitudes para a proteção da natureza”, afirma Rocha. Segundo ele, independentemente de qualquer relação utilitária que o ser humano possa ter com a natureza, os ecossistemas precisam ser preservados pelos valores intrínsecos que eles apresentam.

E quem afirma isso, além de ser o mergulhador experiente, com milhares de horas vividas no oceano profundo, é também a pessoa que, quando mais jovem, estudante de biologia ainda na sua João Pessoa natal, fez um abaixo-assinado para a prefeitura tentando proteger o Picãozinho, um banco de coral que existe perto da costa da capital potiguar.

“Naquela época não deu em nada. Mas outros biólogos tentaram, e hoje o banco de coral tem uma proteção um pouco melhor, apesar de ainda não ser a ideal” - Luiz Rocha

O pesquisador, além dos outros oceanos, também é um cientista assíduo em águas profundas brasileiras. Em uma das recentes expedições em Fernando de Noronha (onde a água em grandes profundidades é até mais limpa do que nas Maldivas, como mostra a experiência do pesquisador), novas ocorrências de espécies foram registradas.

“O que é incrível, porque Noronha é o local mais estudado do Brasil”, avalia Rocha, que admite se classificar como um dos defensores da Terra.
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