“Uma história visual marcante sobre as mudanças climáticas.” É assim que o climatologista Baker Perry descreve o que ele observou em duas expedições recentes ao alto do mundo. Como membro das Perpetual Planet Expeditions – lideradas pela National Geographic Society com o apoio da Rolex e sua iniciativa Perpetual Planet –, o pesquisador esteve, em 2019, no Everest; e, ano passado, no vulcão Tupungato, no Chile – um dos pontos mais altos da América do Sul.
Segundo descreve Perry, em alguns casos a reduzida cobertura de neve deixa as montanhas, além de escuras, mais sensíveis aos desmoronamentos.
O experiente pesquisador da Universidade Estadual Appalachian, na Carolina do Norte (EUA), não tem dúvida de como o trabalho árduo nos topos do mundo mudou sua própria percepção em relação à crise climática que o mundo vive. “Os impactos rápidos e altamente visuais das mudanças climáticas nas elevações mais altas do Himalaia e dos Andes certamente ampliaram minhas perspectivas como cientista e, em particular, me sensibilizaram para as vulnerabilidades dos recursos hídricos que afetam as populações que vivem mais abaixo dessas áreas”, afirma o cientista americano.
A perda de neve e de gelo vem gerando grandes mudanças nos padrões de precipitação. E isso limita o acesso à água para muitas pessoas.
As duas expedições retratam como até mesmo os pontos mais inóspitos do planeta, como os altos e gelados cumes que foram visitados, estão sendo transformados pelas mudanças climáticas. E essas afirmações são feitas a partir de dados gerados pela ciência, como relata Perry. “As estações meteorológicas instaladas como parte das expedições confirmam que o sol intenso, o aumento das temperaturas e as altas velocidades do vento já levaram à perda de gelo que se acumulou nessas áreas durante milênios, exacerbando o estresse hídrico das populações que vivem abaixo desses cumes.”
A instalação de estações meteorológicas em áreas tão elevadas requer um planejamento rigoroso. O que não significa que percalços estejam totalmente descartados.
Segundo o climatologista da Universidade Estadual Appalachian, a expedição ao Chile envolveu a superação de uma série de grandes obstáculos. “O maior desafio foi organizar a expedição em meio à pandemia de covid-19, que exigiu quarentena prolongada, testes frequentes e implementação de protocolos rígidos para garantir a saúde e a segurança de todos os membros da equipe.” Depois disso, durante o percurso propriamente dito rumo ao topo dos Andes, mais transtornos. “Enfrentamos encostas rochosas instáveis e neve de 2 metros de profundidade, que limitou severamente a capacidade dos cavalos e das mulas de transportar suprimentos e equipamentos para os acampamentos mais altos”, explica Perry.
O ponto base para que a estação meteorológica pudesse ser montada ficou a 5.800 metros de altura. Os equipamentos de medição, entretanto, estão a 6.500 metros de altitude. Em 2019, na mesma região, outras equipes apoiadas pela National Geographic haviam montado centrais de monitoramento climatológicas a 4.400 metros, no Aconcágua, e mais duas, a 4.400 metros e 5.750 metros, no vulcão vizinho, o Tupungatito.
Para o climatologista americano, o resultado pessoal das expedições ao Everest e ao vulcão Tupungato não poderia ser outro, como ele mesmo relata.
“A mudança climática nessas verdadeiras torres de água não é um conceito abstrato. É um processo que já causa impactos diretos nos recursos hídricos que sustentam centenas de milhões de pessoas. Portanto, há uma enorme urgência não apenas em mitigar as mudanças climáticas futuras, mas também em se adaptar às mudanças em relação à disponibilidade de água.”