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Estadão em parceria com Rolex
Hindou Oumarou Ibrahim Sabedoria Popular e Ciência Unidas Contra o Aquecimento Global A defensora climática Hindou Oumarou Ibrahim transformou a maneira como os recursos hídricos no Chade, sua terra natal, são compartilhados
Foto: ©Ami Vitale

Quando a mãe de Hindou Oumarou Ibrahim era criança, o Lago Chade ocupava uma área de 25 mil km² em uma região semiárida no norte da África. Hoje – menos de duas gerações depois –, o espelho d'água segue sendo vital para 30 milhões de pessoas... Porém, com uma extensão de apenas 1.200 km². Diante de tamanho problema ambiental, causado sobretudo pelas mudanças climáticas globais, a ativista climática e defensora dos direitos humanos Hindou resolveu agir, engajando centenas de comunidades tradicionais do interior da África em um projeto que está transformando a maneira de manejar os escassos recursos hídricos do norte do Chade.

“No Sahel [região que forma um cinturão de área semiárida no continente africano e engloba mais de um país], as comunidades que viviam em harmonia entre si estão se transformando em inimigas por causa da luta pelo acesso à água e por terras férteis. Meu projeto busca ajudar essas comunidades a compartilhar os seus recursos da melhor forma possível, apesar dos impactos das mudanças climáticas. Nosso papel é ajudar todos a se adaptarem”
- explica Hindou

Produtores rurais, pastores nômades e pescadores estão angustiados pela iminente falta de água para a sobrevivência de todos (seres humanos, animais e o ecossistema de uma forma geral).

Por Hindou ser uma mulher do povo nômade Mbororo, cujos rebanhos pastam na região ao redor do Lago Chade há milênios, ela conhece o problema por dentro. Mais do que isso, sabe como os povos tradicionais são fundamentais quando o assunto é entender em detalhes a região. Por isso, o projeto idealizado por ela engajou mais de 300 comunidades da região. O foco do trabalho? Fazer o mapeamento detalhado de todos os recursos naturais disponíveis. Além disso, a comunidade científica também entrou na iniciativa.

A partir de modernas técnicas de mapeamento, inclusive em 3D, conseguiu-se chegar a um mapa ricamente detalhado da região. A partir dele, a decisão sobre como compartilhar os pontos de água e as nascentes está sendo tomada de forma coletiva. A pacifista reuniu 500 pastores nativos para mapear os recursos naturais da região: os homens documentaram cumes e planaltos, rios e lugares sagrados, enquanto as mulheres mapearam as nascentes. Por fim, o governo nacional acatou o conselho desses povos.

“O meu objetivo foi fazer um mapa colaborativo, combinando conhecimento dos povos tradicionais com as técnicas da ciência e da tecnologia. A partir da identificação precisa dos recursos naturais, podemos mitigar os conflitos entre as comunidades baseados no acesso à água”, diz Hindou.
Foto: © Rolex

Em três meses, uma região de 5 mil km² já foi escrutinada. “O resultado superou minhas expectativas, mas o projeto ainda não terminou. Quero voltar às comunidades para fechar acordos para a gestão dos recursos naturais e a proteção do conhecimento tradicional indígena para amenizar os conflitos por recursos naturais.” A intenção, agora, segundo a idealizadora do mapeamento, é estender o projeto para outras partes do Sahel, o que envolve mapear os recursos naturais de outro país.

Conheça outras histórias em www.rolex.org Foto: ©Ami Vitale

“Na Terra, existem os seres humanos, as espécies de plantas e de animais. Todos vivem juntos, fazendo a diversidade do nosso meio ambiente. Para mim, é importante manter o balanço entre todas as espécies que vivem em conjunto e lutar para que esse balanço esteja na vida diária de todos”, afirma Hindou, que recebeu, por sua iniciativa, o Prêmio Rolex de Empreendedorismo de 2021.

O programa existe desde 1976 e visa buscar, em todo o globo, indivíduos visionários com projetos que mudarão o mundo, protegerão o planeta ou beneficiarão a humanidade. Os cinco laureados são escolhidos por um júri composto por cientistas e especialistas de renome internacional, desde especialistas em águas profundas até exploradores, empresários, defensores do patrimônio cultural e médicos.

Nas comunidades tradicionais africanas, a vida segue em harmonia com a natureza, lembra a ativista climática, que hoje participa de vários fóruns internacionais – inclusive como consultora da Organização das Nações Unidas (ONU). Os recursos naturais são usados na medida certa, sempre com a preocupação de restaurar e reciclar os bens naturais.

“Defender a Terra, para mim, é ajudar a restaurar a harmonia da vida com a natureza, e isso significa proteger as pessoas e o planeta”, afirma Hindou Oumarou Ibrahim, que se define como uma das defensoras do planeta.
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