O planeta está cada vez mais entupido pelos plásticos. Isso significa que desenvolver os preceitos da economia circular nunca foi tão necessário. Imagine, então, a importância de uma técnica inovadora a ponto de transformar plástico não reciclável (em forma de sacola, por exemplo) em matéria-prima, que pode ser reutilizada em processos industriais.
No Vale do Silício, na Califórnia, uma ideia que matura desde a adolescência na mente da empresária Miranda Wang tem como
proposta fazer exatamente essa transformação quase mágica: conseguir reciclar um tipo de plástico que, por estar usado, é
totalmente descartado nos dias atuais.
O momento eureca sobre o que era preciso fazer surgiu quando Wang, ainda no Ensino Médio, visitou uma usina de processamento
de resíduos em uma excursão escolar. Ela estava, na época, ao lado da melhor amiga, Jeanny Yao, hoje sócia de Wang em uma
startup. Foram sete anos de testes metódicos até chegarem a uma solução. Agora, o projeto ganhou corpo e está prestes a entrar
em escala industrial.
O processo, do ponto de vista técnico, consiste na decomposição do polietileno. Esse tipo de plástico representa por volta de 33% do total de plásticos produzidos no mundo. O que a equipe da Wang fez foi conseguir recuperar, a partir do próprio polietileno, produtos químicos precursores usados na criação de outros materiais.
Segundo a empreendedora, hoje não há praticamente nenhuma tecnologia eficaz para o processamento de plásticos muito sujos. “Sua qualidade é tão baixa que não faz sentido limpá-los para fabricar novos produtos. Nosso foco são exatamente esses plásticos problemáticos, que ninguém quer tratar.”
A trajetória inovadora da empresária americana, que recebeu um dos Prêmios Rolex de Empreendedorismo de 2019, tem alguns pontos inesquecíveis, como ela própria salienta. “Um dos nossos momentos memoráveis ocorreu quando recebemos os dados de que o nosso sistema de produção emite 46% menos gases de efeito estufa em relação aos processos convencionais que já existem”, afirma Wang.
Segundo a empreendedora, os resultados obtidos pela startup foram acelerados exatamente pelo recebimento do prêmio. “O Rolex Awards trouxe uma quantidade significativa de atenção da imprensa para o trabalho da Novoloop e me conectou a uma comunidade inspiradora durante meus primeiros anos de formação como empreendedora. Sem o Rolex Awards, teria sido muito mais difícil levar a tecnologia da Novoloop adiante quando ainda estávamos no início do desenvolvimento”, explica Wang.
Além de ter uma pegada de carbono menor, o processo desenvolvido na Califórnia é muito mais barato na comparação com a extração das mesmas substâncias de combustíveis fósseis e multiplica por 40 o valor do resíduo de plástico quando reciclado em material acabado. Ao dar utilidade ao lixo, a tecnologia também incentiva a coleta, em vez da queima ou do descarte dos plásticos usados.
O próximo passo, agora, é fazer com que a tecnologia definitivamente consiga alçar voo. Para isso, está sendo montada uma usina de processamento comercialmente viável. A previsão é de que, em 2023, sejam recicladas centenas de toneladas de resíduos plásticos na fabricação de materiais de alto valor agregado a partir do plástico que iria para o lixo e para o meio ambiente, principalmente até os oceanos.
“Estamos só no início da implantação de nossa estratégia, que se estenderá por várias décadas, para aumentar a escala e nos diversificar, a fim de criar um portfólio de produtos reciclados de alto desempenho”, afirma Wang.