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Fernando Guedes Ferreira Filho, presidente da Comissão de Política de Relações Trabalhistas da CBIC: "O tema saúde e segurança do trabalho é especialmente importante, pois o trabalhador é o nosso maior patrimônio".

“A cultura prevencionista tem de alcançar a todos”

Presidente da CPRT da CBIC, Fernando Guedes Ferreira Filho fala sobre a necessidade de o setor acompanhar as mudanças tecnológicas e enraizar a prevenção

O uso de novas tecnologias não pode ser ignorado e tem de servir como ferramenta importante para que as empresas do setor da construção deem um salto em sua gestão de saúde e segurança do trabalho (SST). A avaliação é de Fernando Guedes Ferreira Filho, presidente da Comissão de Política de Relações Trabalhistas (CPRT) da CBIC, e norteou os debates do V Encontro Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção.

Nesta entrevista, o dirigente fala sobre o evento, faz um balanço sobre os avanços nesse campo e projeta o novo ciclo da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes na Indústria da Construção (Canpat Construção).

Qual a importância da realização do V Encontro Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção?

Nós entendemos que é nosso papel, enquanto entidade empresarial, fomentar todos os debates que dizem respeito à nossa indústria. O tema SST é especialmente importante, pois o trabalhador é o nosso maior patrimônio. O custo com mão de obra representa um valor significativo dentro da realidade da área de construção. Nós temos que cuidar do trabalhador para que ele tenha um bom ambiente de trabalho, que seja seguro e sadio para fazer o seu serviço. Essa é uma ação estratégica da CBIC, que tem fomentado a discussão sobre os temas relacionados à segurança e realizado diversos eventos com esse objetivo. Foi a quinta edição do encontro nacional, e tratamos de gestão de segurança de saúde no trabalho, mas com enfoque em inovação. Não só a indústria da construção, mas todas as atividades estão passando por um momento de transformação muito importante e interessante. Isso tem reflexo no trabalho das pessoas e, obviamente, na forma com que se faz a saúde e segurança. Com a aplicação de novas tecnologias, temos maior qualificação do trabalhador e menor tempo para a execução de tarefas, ou seja, aumenta a produtividade. E, quando é mais produtivo, passa menos tempo no ambiente de trabalho. Em consequência, se expõe menos a situações de risco. São questões que têm de ser entendidas pelos novos profissionais de SST.

A Canpat Construção entra em um novo ciclo. Que avaliação o senhor faz da iniciativa até aqui?

A indústria da construção é heterogênea. Você trabalha desde a pequena obra de reforma até a construção da grande hidrelétrica ou da grande estrada, aeroporto, grandes obras de infraestrutura. Há trabalhadores em todos os níveis sociais envolvidos no sistema da construção e, obviamente, essa ideia da cultura prevencionista tem de alcançar a todos. Por isso, nós desenvolvemos uma campanha nacional específica para a indústria da construção. Com ela nós vamos para o terceiro ciclo, de 2019-2020. Fazendo um balanço, o primeiro ciclo foi mais para mostrar a presença da indústria nessa temática. Nós visitamos alguns estados, levantamos questões importantes, trouxemos as melhores práticas que são utilizadas no setor e difundimos técnicas. No segundo ciclo, nós falamos de um assunto específico, que é o trabalho em altura, um dos maiores problemas da indústria da construção. Levamos as ferramentas que nós temos, o que a CBIC e o Sesi já fizeram, a subsecretaria de inspeção do trabalho mostrou seus dados, suas impressões sobre a questão do trabalho em altura, desde o momento em que eles começaram a monitorar até o que pode e deve ser feito para melhorar a gestão do trabalho em altura. Para 2019-2020, vamos repetir o tema. Ele foi muito bem aceito e ganhou uma relevância grande para o setor da construção e para as pessoas que trabalham com saúde e segurança. Nós vamos aprofundar as discussões. É uma demanda do próprio setor, das empresas e dos profissionais. As práticas são muito relevantes, assim como o material que a CBIC tem para difundir.

Com base nas opiniões das empresas e trabalhadores dos ciclos anteriores, qual a expectativa da CBIC para este próximo ciclo?

A expectativa é grande para as duas vertentes que nós trabalhamos. A primeira é continuar com a disseminação da cultura prevencionista. Sobre os resultados e índices, como os de redução de acidentes, nós queremos iniciar a caminhada para vencer o desafio de compilar os dados e, assim, identificar pontualmente causas, localização e consequências desses acidentes. Hoje, com as informações que são trazidas a público pelo governo, a gente não consegue ainda ver o detalhe de um acidente de trabalho em uma obra X, com o empregado Y. Nosso primeiro desafio é criar, junto com o governo, que já se mostrou disposto a trabalhar nesse sentido, os indicadores apropriados para que a gente possa fazer esses levantamentos e começar a resolver os problemas.

No evento, foi lançado o livro “Segurança e Saúde na Indústria da Construção - Prevenção e Inovação”. Qual a importância de promover esse tipo de publicação?

Nossa ideia foi fazer um livro com texto técnico e direcionado aos profissionais de saúde e segurança que atuam na indústria da construção, trazendo as técnicas inovadoras desse setor. Nosso setor é muito conservador em relação a esse tipo de mudança, somos mais lentos na aplicação de novas tecnologias, mas não podemos ficar para trás e deixar de aplicar aquilo que gera melhoria da qualidade dos nossos produtos para o nosso consumidor. E isso passa pela qualificação dos nossos profissionais. Nessa linha, o livro lista temas, indicadores, dados novos, ideias novas para que a gente consiga produzir dados e alcançar resultados mais efetivos. Produtividade e segurança são muito importantes. As pessoas têm de ter em mente que segurança é investimento. O trabalho que segue as regras se torna mais produtivo e organizado. A SST tem de ser objeto de uma gestão complexa dentro da empresa, não só quando acontece algum acidente ou quando precisa cumprir alguma norma. Nós temos de ampliar essa ideia que já é aplicada pelas empresas organizadas para toda a indústria da construção, enfatizando que essa gestão começa lá no início, desde o projeto da obra, e vai até a sua entrega. Ao mesmo tempo, é importante mostrar para a comunidade da construção que já existem no mercado produtos inovadores que têm aplicação na área e podem ajudar a empresa a melhorar a gestão.

Como o senhor avalia a situação brasileira na gestão de SST?

O Brasil está muito avançado. A ideia das normas regulamentadoras, instituídas a partir do final da década de 1970, tem algo de interessante porque criou o norte para essa questão. O que nós precisamos agora é agregar as normas de saúde e segurança com as técnicas inovadoras de gestão que existem e que precisam ser aplicadas de forma harmônica e contínua. Na indústria da construção, essas ferramentas facilitam cada vez mais o trabalho. Precisamos unificar essa nova gestão com as normas existentes. Nós fazemos um trabalho muito forte em conjunto com a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, levando essas diversas questões para o setor da construção, mas a gestão de SST em 2019 não é só atender às normas regulamentadoras. Nós precisamos incutir na cultura de empresários, governo e trabalhadores, sociedade em geral, que saúde e segurança fazem parte de todo o processo desde o projeto, não só da execução.