Em seminário, entidade apresenta as linhas gerais de projeto desencadeado para que a indústria da construção tenha seus próprios mecanismos
As inúmeras iniciativas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para o enraizamento de uma cultura de prevenção à prática de desvios e combate à corrupção no meio empresarial não devem parar na implementação de programas que incentivem a transparência nas empresas. Por mais longo e árduo que seja, o caminho para uma indústria ética e correta não tem volta e deve levar a passos ainda mais ousados, como a autorregulação.
Para que o público do “Diálogos CBIC: Transparência nas Relações” entendesse quais podem ser os próximos estágios desse processo, Leonardo Barreto, cientista político pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em comportamento eleitoral e instituições políticas, mostrou a imagem de um freezer de picolés em um estabelecimento comercial. Fixada ao congelador, havia uma placa com a orientação para o cliente pegar o produto que quisesse e colocar o dinheiro em uma pequena caixa. Não havia, portanto, cadeados ou funcionários controlando as vendas. Quando questionou ao auditório o que vinha à cabeça quando via a foto, Barreto mostrou-se satisfeito ao ouvir “confiança” como resposta: “É a palavra-chave dentro do nosso processo. Confiança gera colaboração, e colaboração gera redução de custos”.
O cientista político referia-se aos planos, ainda em elaboração pela CBIC, de estimular a autorregulação do setor da construção. A ideia é a própria indústria definir uma série de regras que se apliquem às suas práticas, a exemplo do que faz o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). A instituição, que fiscaliza a ética na propaganda, não tem poderes de distribuir multas, por exemplo. Só que, devido a sua credibilidade, suas decisões com recomendações, por exemplo, para modificação de peças publicitárias são quase sempre respeitadas. “A autorregulação não significa ausência de regulação, talvez envolva até uma regulação maior. Isso gera ganho de reputação para o setor e ganho de segurança jurídica nas operações”, avalia Barreto.
CEO da construtora Tarjab e um dos painelistas do evento, Carlos Alberto Borges reforçou a importância de o setor tomar atitudes que demonstrem comprometimento com a correção de suas práticas: “Costumamos ouvir que não dá para ser competitivo e fazer tudo certo. Temos de inverter essa lógica. Na verdade, não será possível sobreviver no mercado se não fizermos tudo certo”.
O esforço começa com a análise do gestor da realidade de sua própria empresa, como lembra Claudia Taya, secretária de Transparência e Prevenção da Corrupção da Controladoria-Geral da União (CGU): “É preciso entender quais são os riscos para, depois, adotar as medidas. Há questões operacionais, financeiras, de imagem. Cada organização tem de identificar seus próprios riscos e tomar a iniciativa mais adequada”.