Quando Eliana Calmon, ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi convidada pela CBIC a ser palestrante dos seminários do projeto Ética & Compliance na Construção, ficou um tanto surpresa. De longa trajetória de atuação contra a corrupção, não imaginava que suas duras palavras contra a prática de desvios fossem aceitas pelo setor com tranquilidade.
Só que, logo após o primeiro dos 19 seminários promovidos pela entidade (veja quadro ao lado), em correalização com o Sesi Nacional, a ex-ministra entendeu que o compromisso da CBIC com a transparência não era apenas da boca para fora: “Abri minha alma e disse tudo aquilo que precisava ser dito. A surpresa é que fui convidada para os seminários seguintes e achei muito interessante essa forma de atuar da CBIC, focando em uma mudança no entendimento de tudo que estava acontecendo”, comentou. “O presidente da CBIC é um homem de coragem, e as mudanças estão surtindo efeito”, afirmou.
O contato com empresários fez com que a jurista entendesse os anseios do setor, avaliasse os impactos que a Operação Lava-Jato teve na indústria e constatasse, com alegria, o crescimento do interesse sobre temas ligados à transparência. “Quando explodiu a Lava-Jato e houve essa grande descoberta do que estava acontecendo no Brasil, que era a democracia sustentada pela corrupção, as construtoras começaram a ser olhadas como um setor de corrupção. Hoje, para contratar uma construtora, só faltam exigir certidão de batismo. Coube à CBIC desenvolver um projeto de recuperação até então inédito, mas extremamente inteligente”, comemorou. “Podemos dizer que os resultados dos seminários têm sido muito bons. As coisas estão mudando, e vejo que as plateias são cada vez maiores e mais atentas. Cada vez mais as pessoas vão assistir, estão interessadas, perguntam, estão atentas a tudo que é dito pelos especialistas.”
Outro ponto destacado por Eliana Calmon é a necessidade de adequação a uma nova realidade, em que a transparência é obrigatória para a sobrevivência das empresas. Com a tecnologia que permite analisar e identificar em que pontos se cometem desvios, esconder práticas irregulares torna-se inviável: “Essas iniciativas da CBIC ganham espaço porque entendem a necessidade de uma nova forma de agir das empresas. No mundo moderno, não se esconde nada. É assim que começamos a caminhar de forma diferente”.
O foco na adoção de programas de integridade nas empresas, uma das linhas de atuação da CBIC, também foi elogiado pela painelista como uma forma de chegar à “cidadania politizada”: “O que acho de importância fundamental é que não se combate a corrupção só com órgãos de governo e de controle; combate-se com política e, também, com cidadania politizada. Não se combate com discurso, mas com programas que as pessoas entendam e adotem. É preciso andar com correção, honestidade e transparência”.
Otimista, a ex-ministra encerrou sua apresentação manifestando a esperança de que a corrupção, no futuro, seja algo tão distante da realidade como hoje é a escravidão. “Vamos ver a corrupção como um fato histórico longínquo. A única forma de o planeta Terra sobreviver é combater a corrupção e limpá-la dos governos”, concluiu.