Dificuldade de compilar dados ainda é desafio, mas levantamentos importantes mostram o panorama dos canteiros de obras
Dados desencontrados, subnotificação de acidentes, fontes de informações que não “conversam” entre si. Quem se propõe à difícil tarefa de compilar estatísticas ligadas a segurança e saúde no trabalho (SST) no Brasil encontra essas dificuldades. Ainda assim, há trabalhos importantes que dão ideia do panorama da gestão na área e indicam, entre outras conclusões, que os acidentes causam um dispêndio financeiro importante para as empresas da construção; por outro lado, há uma diminuição do número de ocorrências nos últimos anos.
Os autores dos artigos do primeiro capítulo do livro “Segurança e Saúde na Indústria da Construção – Prevenção e Inovação”, iniciativa da CBIC em correalização com o Sesi Nacional, debateram esses temas no primeiro painel do V Encontro Nacional Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção. Estatísticas e dados ligados à SST foram protagonistas do debate. “Precisamos ter um sistema de indicadores, o que significa três dimensões: regularidade, para se ter sequência ao longo do tempo; credibilidade, para que não se ponha em dúvida a fidedignidade; e transparência, para que todos vejam como são elaborados”, destacou o moderador Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao dar início ao painel.
Para André Ferro, economista e consultor da CBIC, o Brasil vive o que classifica como “inferno de dados”, em que “você pega duas fontes e tem dificuldade para que falem entre si. Isso é um problema que nos dificulta ter boas fontes de informação”. Diante deste cenário, estudos como o publicado pelo próprio Ferro são de grande importância. No artigo, o economista demonstra que houve diminuição no número de acidentes de trabalho no setor da construção entre 2012 e 2017.
Ferro lembra que esse tipo de levantamento ajuda a desconstruir a imagem negativa dessa indústria em questões ligadas à SST: “Ouvimos falar que o setor (da construção) mata muito, mas é um dos que mais empregam no Brasil. Em números absolutos, é verdade que o setor tem muito acidente. Mas, se pegarmos os indicadores e relativizarmos com relação ao número de vínculos, vamos observar que não é um dos mais arriscados do Brasil”.
Médico do trabalho, Gustavo Nicolai contribuiu para o debate com um estudo que pode incentivar empresários a investir em SST. Seu trabalho, feito a partir de um amplo levantamento de acidentes na indústria, demonstra o custo médio de cada ocorrência para a empresa: R$ 11 mil. O valor médio para cada afastamento de trabalhador chega a mais de R$ 85 mil. “A percepção, que já havíamos tido no início e começa a se confirmar, é de que essa informação, para a tomada de decisão, tem uma relevância significativa. O empresário vai em busca de dados na hora de escolher suas estratégias, de como fazer SST, como fazer prevenção e outras questões.”O médico destacou a ferramenta “Construindo Segurança e Saúde”, um simulador de custos de acidentes e afastamentos desenvolvido pela CBIC e pelo SESI Nacional, sob sua coordenação, no qual é possível mensurar o impacto financeiro dos acidentes de trabalho para as empresas.
A qualidade destas informações é a preocupação principal de outra painelista do evento. A engenheira civil Camila Famá falou sobre sua experiência com o que chama de indicadores pró-ativos, em contraposição aos reativos. Em vez de focar apenas em números de acidentes de trabalho ou afastamentos, por exemplo, ela compilou informações como relatos de quase acidente e índice de treinamento dos trabalhadores. “Temos muitos dados quantitativos e poucos qualitativos. Muitas vezes, depois do acidente, busca-se o culpado, mas há uma série de outros fatores relacionados ao planejamento, à situação do ambiente, que vão contribuir para o acidente. O indicador pró-ativo revela essas causas que podem ajudar na prevenção”, avalia.